Passam os pássaros, a brisa, e todas as lembranças deixadas para trás. A África e os seus animais dominantes, se perdem com o cheiro da maresia, e do cheiro da carnificina moendo vidas no percurso, que depois sem nenhuma utilidade são arremessadas ao mar, para servir de comida aos tubarões.
O céu brilha com milhares de estrelas, é a única paisagem que se mantém das savanas e da imensidão da natureza, os homens são cruéis, sempre foram cruéis com seus semelhantes. Mas, esse navio que carrega almas, mói carne como um pilão e infecta toda a nave para satisfazer a sede por riqueza dos homens.
As mulheres grávidas abortam as crianças devido ao medo e o estresse da viagem, mulheres são frequentemente estupradas para saciar a fome por sexo da tripulação.
É de manhã, e mais três homens são açoitados por se recusarem a comer, os açoites, servirão de exemplo para aqueles que tentam se levantar contra a normalidade. Um morreu de escorbuto, o outro de varíola, e um outro de malária. Todos serão jogados ao mar para o descanso eterno.
E muitos se jogam ao mar, na esperança de escapar desse sofrimento agonizante, esses homens e mulheres valem menos que os animais que carregam carga na Europa e nas Américas, esses homens são peças de mercadoria que darão força a economia das colônias.
Para tristeza dos que se jogam ao mar, há barcos de escoltas que resgatam os suicidas, que querem escapar da dor e do desgosto de viver. E o chicote estala nas costas arrancando as camadas da pele e as fibras dos músculos causando-lhes uma dor insuportável.
Talvez deus do outro lado do Atlântico já não nos tenham mais como filhos, essa horda de muçulmanos negros que não reconhece seu filho como único salvador, talvez tenhamos que aceitar o destino que a vida nos reservou, sofrer, para os escravizados é o único destino que a vida reservou.